A luta das mulheres por mais respeito e direitos na sociedade foi destaque na entrega da 21ª edição do Diploma Bertha Lutz, nesta quarta-feira (8), Dia Internacional da Mulher. Foram agraciadas no Plenário do Senado sete personalidades escolhidas pela bancada feminina da Casa: a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber; a socióloga e primeira-dama Rosangela da Silva, a Janja; a diretora-geral do Senado, Ilana Trombka; a cientista política Ilona Szabó, presidente do Instituto Igarapé; e a jornalista Nilza Zacarias, coordenadora da Frente Evangélica pelo Estado de Direito. Também receberam o diploma in memoriam a jornalista Glória Maria e a líder indígena Clara Camarão.
Também estiveram presentes na homenagem as ministras do Planejamento, Simone Tebet, da Saúde, Nísia Trindade, e da Gestão de Governo, Ester Dweck.
À frente da sessão, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, disse estar preocupado com o aumento das mais diversas formas de violência contra as mulheres verificado na sociedade brasileira nos últimos anos.
— Uma pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública revela que todas as formas de violência contra a mulher cresceram em 2022. Um cenário trágico, em que diariamente uma média superior a 50 mil mulheres são vítimas de violências e uma mulher a cada seis horas é morta por ser mulher. Grandes obstáculos persistem no atingimento da igualdade de gênero, como a diminuição da sub-representação política, a redução nas desigualdades do mercado de trabalho e o combate à violência, que tem dados alarmantes, uma quantidade inaceitável de feminicídios — disse.
Pacheco destacou o legado histórico da cientista e ativista Bertha Lutz, cuja luta teve impacto no Brasil e no mundo.
— Bertha Lutz foi uma das poucas mulheres a participar da elaboração da Carta da Organização das Nações Unidas em 1945. Em evento dominado por homens, a brasileira liderou a luta para que os direitos das mulheres estivessem contemplados. Incluiu no preâmbulo e no artigo 8 uma referência específica à igualdade de direitos de homens e mulheres. Foi graças a Lutz que se garantiu a igualdade na participação de homens e mulheres nos diversos órgãos da ONU — lembrou.
O senador disse ainda que naquela época era visto com naturalidade que a mulher tivesse toda sua vida dedicada às tarefas domésticas. E lembrou a postura vanguardista de Lutz, para quem "o lar não cabe no espaço de quatro muros. Lar também é a escola, a fábrica, a oficina, é acima de tudo o Parlamento, onde se votam as leis que regem a família e a sociedade".
A vanguarda das bandeiras feministas de Bertha Lutz também foi destaque na fala de Ilana Trombka.
— Bertha era uma mulher, antes de tudo, livre, em todos os aspectos da vivência humana. E a principal liberdade de Bertha era não ter limite em seus sonhos nem na força para pô-los em prática. Esse é o grande legado que Bertha nos deixa: é de que podemos sonhar o que quisermos.
Machismo estrutural
A ministra Rosa Weber citou uma das referências no estudo da história brasileira, a escritora e professora Mary Del Priore, ao abordar o machismo estrutural que marca séculos de formação da nossa sociedade.
— Lembro o registro de Del Priore de que a questão feminina no Brasil permaneceu excluída da própria História como disciplina até a década de 1970. O espaço era demarcado por representações masculinas dos historiadores que produziam com exclusividade a reconstituição da história, o longo evoluir das conquistas femininas no tocante à igualdade de gênero e à resistência das mulheres, sobretudo sob a ótica das relações de poder. Mesmo no espaço forense, condutas e atos discriminatórios são indicativo seguro de que sequer o Judiciário é imune à cultura de subjugação e desqualificação do feminino que impregna a sociedade — disse Rosa Weber.
Janja ressaltou as dificuldades que as mulheres enfrentam na política, criticou as manifestações de ódio e machismo estrutural que infestam as redes sociais e revelou que sofre mais ataques que o presidente Lula.
— Cada uma das mulheres aqui — ministras, senadoras, deputadas, assessoras — sabe das dificuldades do dia a dia da política. Eu mesma tenho sido o principal alvo de mentiras, ataques à honra e ameaças nas redes sociais, até mais que o presidente Lula. Sei que muitas de vocês também passam por isso, pela mesma terrível experiência de ver seu nome, seu corpo, sua vida expostos de forma mentirosa — lamenta.
Evangélicos
A jornalista Nilza Zacarias disse ver com preocupação a infiltração de movimentos político-partidários nas igrejas evangélicas. Para ela, os religiosos são historicamente um segmento de vanguarda na sociedade brasileira, e esse legado deve ser levado em conta.
— A religiosidade brasileira está mudando, e não ocorre porque eu quero. Eu que sempre fui crente, nasci nos anos 1970 quando éramos 5% da população. Não imaginava nunca que chegaríamos a 30%, 40% de evangélicos no país e que, chegando a esse patamar, seria tão complicado, tão difícil. A fé evangélica é a fé da reforma, uma fé de vanguarda que ajudou na construção da educação pública, que ensinou camponeses a ler e que deu destaque ao papel da mulher na comunidade religiosa, dentro das comunidades. Não imaginava que essa fé pudesse vir a se tornar alvo de disputas políticas e ideológicas — afirmou.
Ilona Szabó relatou as diversas parcerias do Instituto Igarapé em todo o país com movimentos sociais liderados por mulheres — grande parte delas vivendo em situação de grave vulnerabilidade.
— A atuação do Instituto Igarapé se estende às questões das mulheres presas e egressas [de presídios], às questões de gênero e políticas de drogas, ao Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, à proteção das mulheres defensoras do meio ambiente, em especial na Amazônia. É preciso lembrar o papel fundamental das lideranças femininas hoje, indígenas, quilombolas, ribeirinhas, na proteção do meio ambiente, na defesa dos povos tradicionais e na promoção do desenvolvimento sustentável. Elas tem pago um preço muito alto e precisam de proteção.
Fonte: Agência Senado
Foto: Geraldo Magela/Agência Senado